Copiar é fundamental
A palavra causa tremores e a obrigação de se achar uma forma absolutamente pessoal de desenhar pode ser uma tortura especialmente em tempos como os nossos em que temos tudo à mão mas pouquíssimas referências.
Explico: muitos dos profissionais (de imprensa, especialmente) começaram a desenhar e desejar publicar porque viam páginas duplas, desenhos maravilhosos e bem editados em jornais e revistas.
Por outro lado, temos em um simples monitor, o mundo. Museus, exposições, publicações, blogs e sites. Mas não é a mesma coisa.
A publicação na banca demonstra que alguém pode viver de seu desenho, que ser profissional é estar lá e com as contas pagas.
Profissionais também vivem esse drama. Vivem comparando seu trabalho com os dos colegas, vivem se questionando se o desenho não está envelhecendo, se a fonte de ideias está secando.
Eu mesmo tinha mais de 10 anos de profissão e vivia às turras com meu traço, com a não intimidade com certos materiais e com uma inevitável inveja branca quando via algum desenho matador publicado aqui e ali.
Todos, sem exceção, se desesperam na tentativa de achar um traço para chamar de seu, para desenhar mãos, desenhar pés, dar expressão, usar perspectiva e eu digo simplesmente que tudo já está inventado e o que nos resta é copiar. Sim, copiar.
Copiar é diferente de chupar.
Copiar é estudar o trabalho de outro para entender como ele chegou lá.
Num “piratas do tietê”, do Laerte, por exemplo, tem tudo para se começar bem. Tem anatomia, uma infinidade de expressões, profundidade, perspectivas, navios, movimento, claro/escuro, arquitetura e mãos, muitas mãos.
Copiar o Laerte é um bom começo.
E se a questão é anatomia, vamos aos gregos. Nas estátuas gregas encontramos todos os músculos e posições que precisamos para entender o corpo humano. Um bom livrou ou o querido google resolvem fácil.
Se a gente copiar um, o outro, mais outro, mais aquele e tantos quanto puder dos quadrinhos, da ilustração até os pintores clássicos, mais chance de se criar um repertório próprio. Ele será a soma de tudo o que se copiou mais o que se descobriu de si próprio passado por uma peneira.
O que pingar no papel é nosso estilo.
Ele não queria ser um compositor. queria ter uma banda que soasse como um Jimmy Reed, como Jimmy Rogers, Pat Hare, caras que tocavam com Muddy Waters e Chuck Berry.
Escutar, escutar, copiar as notas, tentar reproduzir.
Vc só fica bom repetindo à exaustão.
Keith não perseguia seu estilo. queria ficar bom como os heróis americanos que ele escutava nos compactos simples que conseguia com amigos em Londres.
Anos depois, numa dessas encruzilhadas, percebeu que conseguia compor algo, que era bom em criar riffs, que podia decidir por uma afinação mais aberta e, finalmente, ter sua assinatura em algumas das músicas mais importantes do rock mundial.
Keith Richards todo mundo conhece. E ele começou copiando.
O truque está em saber o momento de se desgarrar de seus mestres e passar a ter uma identidade, um dna reconhecível.
se dar a liberdade de errar e tirar proveito disso.
O estilo, aliás, pode estar escondido atrás de erros e não na tentativa de se fazer tudo certinho mas isso a gente só descobre fazendo.
E fazer dá um certo trabalho.
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