"Eduquemos as crianças, e não será necessário castigar os homens" - Pitágoras

terça-feira, 25 de março de 2014

A realidade da escola de hoje não é mais a da sua época!




Metamorfose educacional

Escrito por Fábio Torres

Retirado deste link



A geração Z – conforme convenciona-se – é aquela composta por quem nasceu em meados da década de 1990 até o começo do novo milênio e que possui um domínio acima da média de tecnologias como computador, smartphonetablets, etc., uma vez que nasceu e cresceu no mesmo período da popularização desses aparelhos.
Por isso, essas crianças e adolescentes são muito mais hiperativos e dispersos que os de gerações anteriores, pois querem tudo com velocidade, “pra ontem” – na gíria desta geração –, prezando o imediatismo e o dinamismo. Esse público está hoje adentrando o mercado de trabalho ou então ocupando as cadeiras das salas de aulas, ocasionando um inevitável choque de gerações com os professores, coordenadores pedagógicos e gestores, pertencentes a uma época na qual essas tecnologias não existiam ou, se existiam, tinham o acesso bastante limitado.
Para o conferencista, empresário e escritor Gilberto Wiesel, o único jeito de lidar com esses entraves é passar por um longo e profundo processo de mudança. Deve-se mudar o comportamento dos gestores e educadores, que devem estar dispostos e interessados em aprender sobre as novas tecnologias (de modo que possam dialogar com os alunos, trocando experiências valiosas), e também deve haver uma adaptação da infraestrutura da escola, buscando equipá-la com o que há de mais moderno, sejam computadores, notebooks ou tablets, ou então fazendo melhor uso dos equipamentos que já existem dentro da instituição. Especialista em treinamento de diretores, gestores e empreendedores, Wiesel esteve em julho de 2012 em Curitiba (PR) palestrando sobre esse conflito de gerações no Fórum Internacional de Gestão, Liderança e Competências na Educação. Na oportunidade, ele conversou com exclusividade com a revista Gestão Educacional, dando dicas e conselhos preciosos para os educadores preocupados em manter um alto nível de qualidade de ensino, mesmo tendo à sua frente alunos tão diferentes daqueles de 10 anos atrás.
Gestão Educacional: Como é essa nova geração consumidora de saber?
Gilberto Wiesel: Essa nova geração já vem bem embasada e muito forte na área de tecnologia. Hoje em dia, esses jovens estão acostumados com coisas muito modernas, muito rápidas e muito imediatas. É a famosa geração “não tenho tempo”, que não tem muito tempo pra perder, que não quer ficar muitos anos estudando, que quer as coisas muito imediatas e, principalmente, que está muito acostumada com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e com a modernidade. É aí que entram hoje os grandes choques dentro das organizações educacionais; muitas vezes, as escolas não são tão atraentes quanto esta nova geração gostaria que fosse.
Gestão Educacional: Essas organizações educacionais, portanto, não são exatamente do jeito que o público quer. Quais são os desafios que o gestor tem para adaptar as escolas para esta nova geração?
Wiesel: O grande desafio é que o gestor vai ter que desenvolver novas competências. E quando falamos em novas competências, queremos dizer que são competências na área de materiais, de tecnologia, como também na área humana. Vamos ter que nos adaptar e resolver logo essas questões materiais e de tecnologia para tornar nossas empresas educacionais atrativas, para manter este cliente [o aluno]. Esse jovem quer participar, mas ele quer coisas modernas. Então nós vamos ter que correr o quanto antes atrás dessas novas tecnologias. Não adianta a gente imaginar que não vai ser assim e ficar acreditando que isso não é verdadeiro. É muito verdadeiro, porque esse jovem tem, hoje, dentro de sua casa, televisão de última geração, computador de última geração, tudo muito rápido, muito colorido. Qual é o motivador que esse jovem terá para ir para a sala de aula se ele não encontrar a mesma tecnologia que tem dentro de casa? O que vai fazer com que ele queira ir [para a escola] e goste de estudar? Portanto, a primeira coisa é esta questão das ferramentas de comunicação. A segunda é a questão comportamental, ou seja, nós vamos encontrar dentro da sala de aula pessoas de gerações totalmente distintas, professores de gerações anteriores, que pensam de forma totalmente diferente daqueles jovens que estão ali; então nós vamos ter que adaptar [isso], e é aí que vem a busca das novas competências comportamentais para poder entender esse jovem, que é o novo consumidor do saber.
Gestão Educacional: O gestor como pessoa e como profissional está preparado para lidar com esse jovem?
Wiesel: Eu diria que ele não está totalmente preparado, mas tem muitos que já estão se preocupando com isso. Muitas escolas estão buscando essa capacitação porque já perceberam a mudança e começaram a preparar estas pessoas para essa nova realidade. Mas quando eu falo isso, não é somente nas escolas – é em todas as organizações, públicas ou privadas. As pessoas estão tendo que se adaptar a esse novo consumidor que está entrando no mercado de trabalho para consumir e também para trabalhar. Então, está acontecendo uma evolução. Ela não é tão imediata como a gente gostaria ou precisasse que ela fosse, mas ela está acontecendo.
Gestão Educacional: Frente a esse novo momento, deve haver uma mudança na formação do gestor?
Wiesel: Sem sombra de dúvida. Principalmente numa questão de comportamento: a gente hoje vai ter que aprender a aprender, aprender a mudar e aprender a fazer. Mas isso tudo vai depender do interesse; deveremos ter interesse em entender que nós precisaremos passar por um processo de mudança. Ela começa a acontecer a partir do momento em que você passa a perceber a pessoa que está à sua frente de uma forma diferente. Hoje, não basta apenas você olhar o seu aluno como um produto, que está ali para absorver tudo que você acredita que seja importante. Você tem que começar a olhar a pessoa que está à sua frente como um cliente, [e nessa condição ele] tem exigências diferentes de um aluno. A partir do momento que você começa a perceber essa pessoa como um cliente, começa a mudar a sua [própria] postura, porque vai ter que fazer o que a pessoa quer que você faça, e isso já é uma mudança de comportamento.
Gestão Educacional: Nesse processo de mudança, como preparar o professor que antes era (ou foi tido) como a única fonte de informação do aluno, mas que hoje em dia assume um novo papel com a presença da internet? Como o professor deve agir agora neste papel de mediador?
Wiesel: A primeira coisa que o professor tem que ter em mente é a conscientização. Conscientizar-se que essas coisas estão acontecendo, que ninguém está falando isto por falar e que isto é uma realidade. A partir do momento que eu me conscientizo, eu começo a perceber que ou eu mudo ou eu fico fora do mercado. Então tudo começa não pelo que as pessoas acreditam, mas sim pelo que eu acredito e começo a perceber que é importante. Eu, como professor, como novo profissional perante um novo cliente, necessariamente vou ter que mudar. O que passou, passou. Não que isso não seja importante. Vai dar a base, mas não serve mais para a nova realidade do mercado agora.
Gestão Educacional: E o ambiente escolar está adaptado para este novo aluno conectado, que quer as coisas já, que não tem paciência?
Wiesel: Ainda não, porque no Brasil o ambiente escolar, por incrível que pareça, ainda carece de recursos. Portanto, muitas vezes [essa falta de adaptação ocorre] não porque o professor ou a organização não queiram mudar, mas por causa dos recursos disponibilizados para a educação. Se nós tivéssemos no País mais recursos disponíveis para as pessoas mudarem, com certeza já seria um avanço fantástico. Por outro lado, o que a gente percebe é que as empresas de tecnologia já estão, cada vez mais, criando produtos para serem usados na sala de aula. Produtos extremamente modernos, dinâmicos e interativos, para que as escolas possam então conquistar esse novo cliente. Tem muito a ser feito, mas eu acho que o caminho é por aí.
Gestão Educacional: Então o gestor pode tomar quais medidas para adaptar a escola?
Wiesel: Primeiro, a gente tem que começar por aquilo que se tem. Muitas vezes, as empresas educacionais têm algumas ferramentas que estão encostadas. Se você não tem todos os recursos de tecnologia, crie então outras formas de interação com o aluno. Enquanto não se tem a tecnologia propriamente dita, cria-se a “tecnologia do comportamento”, ou seja, a interação. Esse novo aluno é aquele que não consegue ficar parado um só minuto, então não dá mais pra pensar numa aula que não seja dinâmica. Você tem que usar dinamismo para encantar esse estudante. Se não tem a tecnologia, use o que se tem de conhecimento, mas você deve mudar o seu comportamento para que isso aconteça. Aí o professor já começa aos poucos a mudar até que chegue a tecnologia ou que cheguem os recursos necessários para que essa mudança ocorra de forma efetiva.

Matéria publicada na edição de novembro de 2012 da revista Gestão Educacional

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