Retirado de: http://artevis.blogspot.com.br/2007/04/belas-artes-artes-plsticas-arte-visual.html
Belas Artes, Artes Plásticas,
Arte Visual.
Uma mesma modalidade expressiva
pode comportar diferentes poéticas, diferentes modos de fazer. A questão dos
nomes que se referem, atualmente, à Arte Visual, não trata apenas de
nomenclatura, mas de concepção. É o caso da Arte Visual, antes Belas Artes e Artes
Plásticas.
O termo Belas Artes se refere ao modelo de ensino acadêmico que vigorou no
século XIX, por sua vez, baseado no modelo clássico de origem greco/romano que
inspirou o surgimento de diversas Academias de Arte na Itália, em outros países
da Europa e, depois, na França de Napoleão que marca a origem desse ensino no
Brasil. Antes, o ensino de arte era realizado nas Guildas, antigas corporações
de artesãos, oriundas da Idade Média, que tinham por meta organizar os
interesses de seus artífices quanto ao domínio e qualificação do seu fazer e
valoração dos trabalhos que realizavam. Depois das Guildas, as primeiras
academias de ensino artístico surgiram no Renascimento na Itália. A primeira
delas foi a Accademia di Disegno de Giogio Vasari, em 1562 em Florença; depois
a Academia dos Carracci, Annibale, Agostino e Ludovico, em 1585, em Bolonha e a
Accademia di San Lucca, de Frederico Zuccari, em 1593, em Roma. Para
entendê-las, é preciso falar sobre seu processo de ensino:
A prática pedagógica dessas academias
era baseada em um sistema rígido de ensino que tomava como base a cópia de
modelos em gesso de esculturas greco-romanas, o desenvolvimento de estampas e
ornatos, além de estudos de anatomia e modelo vivo, desenho geométrico e
perspectiva, além de filosofia e história. A meta desse ensino era, de um lado,
a aproximação com os mestres clássicos do Renascimento italiano como Rafael,
Michelangelo e Botticelli, por exemplo, por outro uma tentativa de criar um
aparato técnico intelectual que tirasse a arte do contexto do mero artesanato.
Em 1664, em Paris, é criada a Académie de Peintre et de Sculpture que tenta
romper com o modelo de ensino anterior. Nela, a associação livre, dava a cada
um dos participantes iguais direitos e não se submetiam a um mestre em
especial, como era o caso das academias tradicionais. Com a ascensão de
Napoleão ao poder, esta academia passa a ser uma escola de Arte oficial
estatal, muda suas diretrizes e o nome de Academie Royale des Beux-Arts para
École de Beux-Arts de Paris. Dessa escola é que vêm os professores da Missão
Artística Francesa, trazida em 1816 por D.João VI, cujo trabalho culmina na
criação da Academia Imperial de Belas-Artes, em 1826, no Rio de Janeiro, depois
chamada de Escola Nacional de Belas-Artes a partir da proclamação da república.
Essa escola foi a matriz das demais escolas de Belas Artes que surgiram por
todo o país propagando aquele modelo extemporâneo de ensino. Hoje, o prédio
daquela escola, no Rio de Janeiro, abriga o Museu Nacional de Belas Artes.
O belo foi sempre um valor
artístico de referência para a arte de tradição clássica, desde os gregos, cujo
valor era antes da ordem do ético tanto quanto o bem. O bem, enquanto valor
moral tornado valor para a arte, encontra sua reciprocidade no belo, tomado como
valor idealizado, portanto, de beleza, seguido por outros termos valorativos
como o bonito, o agradável, o harmônico, o gracioso etc. Portanto, falar em
Belas Artes, faz-nos falar em tradição clássica, em academia e recuperar
valores que, nem sempre, fazem o perfil da arte na contemporaneidade, diríamos
ser um termo anacrônico.
Quanto ao conceito de Artes Plásticas, vamos começar pelo
termo plástico que tem origem no plastikós grego, cujo sentido se refere aos
procedimentos de modelagem da argila. Podemos aceitar, então, que o termo
plástico tem por propriedade se referir a tudo que dependa de manipulação, da
ação manual exercida sobre um dado material que seja capaz de transformá-lo em
substância expressiva dando-lhe forma e sentido. Logo, todos os materiais que
suportem intervenção a ponto de assumirem novas formas e relações podem ser
chamados plásticos. Podemos compreender sob o termo Artes Plásticas, os modos
de expressão que tenham como base de trabalho a superfície (ambiente
bidimensional) e o volume (ambiente tridimensional), sendo que na superfície
podemos falar em expressão gráfica incluindo o desenho, gravura e de expressão
pictórica, a pintura; quanto ao volume, podemos falar das poéticas que operam
no espaço circundante por meio dos volumes, como a modelagem a escultura,
montagens ou assemblages. Um aspecto importante para o entendimento do que é
Plástico, é compreender que o exercício pragmático da criação depende também do
domínio de habilidades motoras para o manuseio de certos instrumentos e ferramentas
na relação com os materiais e suportes. Nos trabalhos em superfície, como por
exemplo, no desenho, há que se dominar o uso do lápis ou da caneta, na pintura,
há que se dominar o uso dos pincéis e das tintas; na gravura dos instrumentos
de corte e incisão para gravar matrizes em madeira (xilogravura), no metal
(gravura em metal) ou na pedra (litogravura), além da necessidade de conhecer
os meios de impressão. Nos trabalhos em volume há que se dominar habilidades,
técnicas, instrumentos e ferramentas para a modelagem e o corte na escultura
propriamente dita. Cada um dos modos de fazer implica em técnicas, habilidades
e concepções diferentes umas das outras, segundo cada uma das poéticas em que a
expressão se dará. É comum a utilização do plural Artes Plásticas, embora o
singular Arte Plástica fosse mais adequado segundo a linha de raciocínio que
assumimos desde o início. Mas, por força do hábito, vamos manter a grafia como
Artes Plásticas.
Se pensarmos que chamamos de
Artes Plásticas às obras que são produzidas no domínio das habilidades motoras,
materiais e instrumentais como vamos chamar aquelas que se faz sob o domínio de
aparelhos que não exercem uma ação direta sobre a matéria e não se utiliza de
instrumentos ou ferramentas específicas?
Quando surge no campo da Arte
outros modos de fazer que não aqueles tradicionais é necessário também
encontrar um outro modo de nomeá-los, caso contrário, fica difícil entender sua
procedência e suas diferenças constitutivas. O primeiro desses modos a surgir
foi a fotografia. A fotografia, embora tivesse alguma semelhança com o desenho,
a gravura ou pintura, não é nenhuma delas.
A fotografia é produto de um
aparelho ótico cuja imagem é registrada num suporte químico pela luz e depois
processada quimicamente, passando a existir num suporte plano como num
negativo, num diapositivo ou numa cópia. Sabemos que os desenhos, gravuras ou
pinturas são produtos das habilidades manuais dos artistas que operam
diretamente sobre os materiais cujos registros são os mesmos materiais em que
ele inscreve diretamente as imagens que cria, como no papel, na tela ou na
madeira. A fotografia, por sua vez, não depende da ação manual do produtor,
consequentemente, não apresenta o estilo ou o modo de fazer desse produtor, nem
as marcas de suas pinceladas, traços ou gestos.
A fotografia é impessoal. As
marcas que aparecem na superfície fotográfica são decorrentes das lentes e dos
produtos químicos que a constituem e não do autor que a constituiu.
Logo, vamos perceber que o termo
Artes Plásticas já não dá conta de obras que eram produzidas por meio de
aparelhos, assim, passamos a usar um conceito mais abrangente, o de Arte Visual. A idéia de Arte Visual
passa a incorporar diferentes poéticas, tanto aquelas que pertenciam ao
contexto das Artes Plásticas, quanto as novas imagens oriundas dos aparelhos
como os fotográficos, os cinematográficos e suas decorrências
eletro-eletrônicas como o vídeo e os sistemas digitais de produção de imagens
fixas ou em movimento. O conceito de Arte Visual pode abarcar o conceito de
Arte Plástica, no entanto, o conceito de Arte Plástica, não pode abarcar o de
Arte Visual.
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