"Eduquemos as crianças, e não será necessário castigar os homens" - Pitágoras

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O "Copiar e Colar" nas Escolas

Nova geração não se envergonha de copiar e colar

Pesquisas americanas mostram que a internet pode estar redefinindo a forma como os jovens compreendem o conceito de autoria de textos e imagens


No Rhode Island College, um calouro copiou e colou a página de perguntas mais frequentes sobre os sem-teto - e não pensou que precisasse da fonte de informação em sua missão, porque a página não incluía informação sobre o autor.

Na Universidade DePaul, a pista de que o texto de um aluno era copiado foi a sombra roxa de vários parágrafos que ele tinha tirado da Web. Quando confrontado, ele não ficou na defensiva – só queria saber como mudar o texto de roxo para preto.

E na Universidade de Maryland, um estudante, repreendido por copiar da Wikipédia um artigo sobre a Grande Depressão, disse que pensou que o texto – sem assinatura e escrito coletivamente – não precisava de crédito, uma vez que se tratava, em essência, de conhecimento comum.

Os professores lidam com o plágio advertindo os estudantes a dar crédito e seguir o padrão de estilo para citações, e praticamente deixam por isso. Mas esses casos – típicos, de acordo com autoridades responsáveis pela disciplina de três escolas que descreveram o plágio – sugerem que muitos estudantes simplesmente não entendem que estão cometendo um deslize grave.

É uma incoerência que está crescendo na era da internet como conceitos de propriedade intelectual, direitos autorais e originalidade sob ataque na troca desenfreada de informação on-line, dizem educadores que estudam plágio.

A tecnologia digital torna o “copiar e colar” muito fácil, claro. Mas isso é o de menos. A internet pode estar redefinindo o modo como os alunos – que vieram de um tempo de arquivos de música compartilhados, Wikipédia e links da Web – compreenderem o conceito de autoria de qualquer texto ou imagem.

“Temos uma geração inteira de estudantes que cresceu com informação que está acessível em algum lugar no ciberespaço e não parece ter um autor”, disse Teresa Fishman, diretora do Centro para a Integridade Acadêmica da Universidade Clemson. Acadêmicos que estudaram plágio não tentam desculpá-lo – muitos são campeões de honestidade acadêmicas em seus campi – mas tentam entender por que ele é tão difundido.

Em pesquisas entre 2006 e 2010, realizadas por Donald McCabe, co-fundador do Centro para Integridade Acadêmica e professor de negócios da Universidade Rutgers, cerca de 40% dos 14 mil alunos admitiram copiar sentenças curtas em seus trabalhos. Talvez mais relevante, o número que acreditava que copiar da Web constituía “farsa grave” está declinando – para 29% em média em pesquisas recentes, contra 34% no começo da década.

Sarah Brookover, veterana da Rutgers, em Nova Jersey, disse que muitos de seus colegas cortam e colam alegremente, sem atribuição. “Esta geração sempre viveu num mundo onde a mídia e a propriedade intelectual não têm a mesma gravidade”, disse Sarah, que aos 31 anos é mais velha que a maioria dos universitários. “Quando você está sentado diante de seu computador, é a mesma máquina que usa para baixar músicas, provavelmente de forma ilegal, a mesma máquina onde assiste vídeos gratuitos que a HBO exibiu na noite passada.”

A antropóloga da Universidade de Notre Dame Susan Blum, incomodada com os altos índices de plágio em trabalhos, resolveu entender como os estudantes vêem a autoria e os trabalhos escritos, ou “textos”, na linguagem acadêmica.

Ela conduziu sua pesquisa etnográfica entre 234 alunos de graduação de Notre Dame. “Os alunos de hoje estão na encruzilhada de uma nova maneira de conceber textos, as pessoas que os criaram e as que o citaram”, escreveu no ano passado em seu livro My Word!: Plagiarism and College Culture (Minha palavra: Plágio e cultura universitária, em tradução livre).

Susan argumenta que os textos de estudantes exibem as mesmas qualidades de pastiche que conduzem outras ações criativas hoje – programas de TV que frequentemente fazem referências a outros programas ou o rap, que usa trechos de músicas antigas. Ela afirma que a ideia de um autor cujo esforço singular cria um trabalho original está enraizada no conceito de indivíduo do Iluminismo. Ela é apoiada pelo conceito ocidental de direitos de propriedade intelectual, garantido pelas leis de direito autoral. Mas a tradição está sendo desafiada. “Nossa noção de autoria e originalidade nasceu, floresceu e pode estar minguando”, disse Susan.

A antropóloga sustenta que os estudantes estão menos interessados em cultivar uma identidade única e autêntica – como seus homólogos da década de 1960 – do que na tentativa de possuir muitas personas diferentes, o que a Web permite com as redes sociais.

“Se você não está preocupado em apresenta-se como absolutamente original, então está tudo bem se você usar palavras de outras pessoas e está tudo bem se você falar coisas nas quais não acredita”, disse Susan, expressando as atitudes dos alunos. “E está tudo bem se você escrever sem receber qualquer crédito.”

A noção de que poderia haver um novo modelo de juventude, que toma emprestado livremente a voragem da informação para misturá-la em um novo trabalho criativo produziu um rápido alvoroço no começo deste ano com Helene Hegemann, uma adolescente alemã cujo romance sobre a vida em clube noturno de Berlim incluía passagem retiradas de outras pessoas. No lugar de oferecer uma desculpa miserável, Hegemann insistiu: “Não existe essa coisa de originalidade de qualquer maneira, apenas a sua autenticidade”. Alguns poucos críticos a defenderam e o livro chegou à final de um prêmio de ficção (mas não ganhou).

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/estudantes-da-era-da-internet-nao-se-envergonham-de-copiar-e-colar?utm_source=twitterferevista Veja

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